Cia Teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa

    O grupo teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa foi fundado em 2004, como parte de um projeto relacionado ao programa Escola da Família, do governo estadual de São Paulo, utilizando o espaço da Escola Estadual Levi Carneiro, no Jd. Mirna, zona sul da capital paulista. Sua pretensão era a de possibilitar o contato de jovens com a linguagem teatral, explorando-a por meio de jogos cênicos e pequenas encenações. A este propósito juntou-se a necessidade de se discutir a questão do sujeito inserido na sociedade, ou seja, a relação do homem no meio em que vive. Portanto, desde seu início, o grupo possui um caráter social, na medida em que se propõe a problematizar o contexto do qual é fruto.

O nome do grupo, dado pela fundadora e antiga integrante, Alessandra Moreira, procura conciliar a idéia do trabalho coletivo à diversão, aproximando duas dimensões aparentemente contrárias. Encher laje é um trabalho essencialmente de grupo, em que não há um líder dizendo o que deve ser feito. Soltar pipa é uma ação de divertimento, que revela um sonho utópico de voar, presente no desejo humano. Trabalho coletivo, diversão e sonho constituem a essência do grupo Enchendo Laje & Soltando Pipa.

A partir de uma proposta de produção coletiva, o grupo criou e encenou o espetáculo A Sanidade segundo a Loucura durante o ano de 2005. O argumento inicial propunha a discussão de mazelas sociais sob a ótica da loucura. Daí e partindo de sequências improvisadas, o espetáculo estruturou-se com texto final e direção de Acacio Batista e Alessandra Moreira. A peça foi encenada nos palcos do CEU Cidade Dutra e também no CEU Três Lagos, dentro de festivais e trabalhos isolados.

     Em 2006 o grupo passa a utilizar a estrutura fornecida pelo CEU Três Lagos para os ensaios, bem como recebe auxílio e orientação de profissionais ligados ao programa Teatro Vocacional da Prefeitura de São Paulo. Artistas orientadores como Juliana Monteiro, Caco Mattos e Aline Ferraz contribuíram para o aperfeiçoamento das técnicas e da linguagem teatral, além de promover o crescimento do grupo, tanto no campo da prática quanto da teoria. Desde 2006 o grupo participa das mostras e apreciações dentro do programa Teatro Vocacional, com diferentes trabalhos, todos produzidos pelos integrantes.

     Tendo em vista que uma das características dos trabalhos desenvolvidos é o de problematizar as questões sociais, desde 2008 o grupo pesquisa as variadas relações de opressão na sociedade, por meio de textos literários de autores diversos, teóricos do teatro e de outras áreas das ciências humanas e análise do cotidiano.

     A partir de 2009 o Enchendo Laje & Soltando Pipa passa a promover saraus com a intenção de apresentar à comunidade diferentes formas de manifestação artística e os resultados das pesquisas. Deste modo, o grupo amplia suas ações culturais na tentativa de conferir a si um papel mais expressivo e presente na promoção artístico-cultural da localidade onde se situa e nos bairros a ela adjacentes.

    Ao desenvolverem temas do cotidiano, os saraus tornam-se também instrumentos de pesquisa do grupo, além de aproximar a comunidade da arte a partir da realidade em que ela se encontra. O primeiro sarau trouxe como tema “A vida como ela é cômica” e possibilitou ao grupo mostrar os primeiros resultados da pesquisa que desenvolvia para um futuro trabalho. A partir desse tema, foi possível exercitar as linguagens da tragédia e da comédia para satirizar os acontecimentos diários. Além de apresentações pré-estabelecidas, o sarau permitia a intervenção do público, bem como a apreciação dos trabalhos apresentados.

    Em 2010, em parceria com o grupo Sunday Clowns, foi realizado o segundo sarau, tendo como mote a comemoração dos cinco anos de existência do Enchendo Laje e três anos do Sunday. Além de apresentações que resgatavam um pouco da história dos grupos, o Enchendo Laje pôde apresentar as primeiras cenas do que viria a se tornar o espetáculo O nome não importa.

    O espetáculo estrutura-se em torno de releituras dos contos O inimigo e Pamonha, ambos de Anton P. Tchecov, e de sequências improvisadas a partir do material pesquisado. O trabalho apropria-se de elementos da tragédia e da comédia, além de flertar com a linguagem audiovisual, constituindo-se, portanto, por meio de uma estética híbrida, que visa à confluência de diferentes manifestações artísticas balizadas por um tema estruturador, qual seja, as diferentes maneiras de opressão na sociedade.