Protocolo 25 de Setembro

PROTOCOLO - 25/09
 
    Reunião na casa da Cris. Os presentes: Fábio B1, B3, Samara, Paulo, Daniel, Darlan, Anderson, eu - o acaciO - e a dona da casa, Cris (preocupada em comer o lanche e corrigir provas). O meu presente: um bolo trazido pelo B1. Atrasamos um pouco, ensaiamos menos do que o esperado, mas deu pra curtir um pouco e dar um passinho a mais em direção à nossa estreia.
 
    Como o grupo estava reduzido, sugeri que trabalhássemos a canção "o nome não importa", com a ideia do estranhamento no refrão. fizemos isso uma, duas, três vezes e o negócio parecia não sair (é claro que tem alguns elementos colaboraram para isso, tipo, os ataques são paulinos do Darlan (Ah, que pohaaaa!). Não conseguíamos, mesmo com o grupo reduzido e com o Fábio fazendo o estranhamento, cantar no mesmo ritmo e sem quebrar. Foi aí que me veio à mente a figura do Maestro: alguém que rege uma orquestra e que, de certa forma, tem um poder sobre ela. Propus, então, um exercício: eu seria o maestro, e as pessoas só poderiam cantar após um movimento meu indicando isso, e elas poderiam propor um estranhamento, assim como o B1. O exercício foi interessante, e o resultado estético também. Ficamos de levá-lo como proposta para o grupo e inseri-lo na peça, na segunda transição - a primeira continua sendo a versão "ursinhos carinhosos". 
 
    No final comemos o bolo, a Cris largou as correções para comer com a gente e fomos embora - não antes do Fábio B3 estrear na casa da Cris com a tradicional lavagem de louças, espécie de rito de iniciação para quem adentra o templo da nossa querida e famosa pós-balzacquiana.
 
    Bom, é isso. Se que esqueci de algo - o que provavelmente aconteceu - completem este protocolo. E vamos que vamos! Para o alto e Avante!
 
acaciO
 
    Para terminar o protocolo, segue um poema (já que o Fábio e a Samara fizeram isso nos outros protocolos):
 
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horasda tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
 

Drummond - A Flor e a Náusea