O Nome Não Importa

(Farsas do Opressor e do Oprimido)

PROJETO DO GRUPO

 

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

(No caminho, com Maiakovski. Eduardo Alves da Costa)

 

 

Nome do projeto

               O Nome não Importa (Farsas do Opressor e do Oprimido)

 

 

Resumo do projeto

 

                O projeto configura-se como forma de ampliar o contato da comunidade com o fazer artístico, por meio de oficinas, palestras, saraus, ensaios abertos e o espetáculo O Nome não Importa, este último sendo o produto final de uma ação iniciada pelo grupo, com a colaboração do público assistido pelas atividades desenvolvidas ao longo do trabalho.

            Visando à promoção cultural da comunidade em que se localiza, o projeto apresenta o exercício coletivo como instrumento de aproximação das formas artísticas. As ações previstas pelo projeto visam à fomentação de atividades culturais por meio das artes cênicas em confluência com as artes audiovisuais e musicais.

 

 

Justificativa

 

             O projeto visa, por meios artísticos, a uma reflexão das relações humanas sob a ótica da opressão, em diferentes setores da sociedade, não apenas do ponto de vista das diferenças de classe. Portanto, ao discutir as diversas formas de opressão, o projeto ultrapassa os limites da localidade onde se encontra, inserindo-se em um contexto universal. Deste modo, os problemas sociais presentes na comunidade periférica dialogam com questões mais gerais, evidenciando que o binômio opressor-oprimido situa-se em todas as esferas das relações humanas.

               O teatro, mais do que uma manifestação artística, é um poderoso instrumento de conscientização que proporciona ao indivíduo se reconhecer no outro, perceber suas ações em ações alheias. Em outras palavras, a arte teatral permite a experienciação daquilo que escapa à nossa realidade ou permite ter contato com o que nos rodeia, mas que não percebemos, por meio de um novo olhar. É por este motivo que o grupo Enchendo Laje & Soltando Pipa escolheu esta forma de manifestação artística, acreditando em seu poder de entretenimento, comunicação e transformação social.

 

 

Descrição do espetáculo

 

            O espetáculo O Nome não Importa gira em torno das várias formas de opressão. Composto por três cenas intercaladas por intervenções musicais e audiovisuais, esse se caracteriza pela metalinguagem, evidenciando o processo de criação. As mudanças de cenário e figurino, bem como os recursos sonoros e audiovisuais, são feitas no palco, à vista do público.

        O título do espetáculo surge da observação de que o desequilíbrio das relações de poder é constante em todas as esferas da sociedade. Seja uma relação familiar, pessoal, profissional, educacional: em todas é possível constatar os diferentes mecanismos de opressão, ainda que os opressores e oprimidos não se identifiquem nestes papéis. Hierarquia, política, amor, amizade, trabalho, a lei “do mais forte”: não importa o nome que receba, o binômio opressor-oprimido sempre se estabelece.

            O cenário é feito com poucos elementos cênicos: apenas duas cadeiras, uma mesa, um berço e um pano de fundo branco utilizado para projeção de imagens e teatro de sombras. A mesa de som também integra o cenário: quando um ator não está em cena, faz os efeitos sonoros do espetáculo, deixando à vista do público os procedimentos de execução. Deste modo, aquilo que é comumente feito atrás das cortinas é trazido para o palco. A utilização de recursos audiovisuais, a música e os efeitos sonoros acentuam a temática da opressão, na medida em que se integra às cenas e na transição entre elas, conferindo intensidade ao espetáculo.

            Os elementos do cenário e do figurino são ressignificados a cada cena, atribuindo-lhes funções diversas das que convencionalmente possuem. Assim, uma gravata representa o rabo de um cachorro; um lenço torna-se uma flanela; a mesa de um escritório se transforma em sofá. A ressignificação dos objetos cênicos potencializa o discurso do espetáculo O Nome não Importa, atraindo a atenção do público não apenas para o que se diz, isto é, para plano do conteúdo, mas também para a forma de dizer, ou seja, o plano da expressão.

            As três cenas representam diferentes ambientes de opressão. A primeira delas alude à esfera familiar; a segunda insere-se no âmbito das relações de trabalho; a terceira, por fim, concatena ambas as situações. O estabelecimento de uma hierarquia entre as personagens nas cenas é um dos elementos de coesão do espetáculo: explicita-se que o dinamismo social se dá por meio de uma cadeia de opressão, que vai do mais forte para o mais fraco. Os atores, todos vestidos de branco, caracterizam suas personagens com adereços que as simbolizam. A utilização da cor branca, além de contribuir para o recurso da projeção audiovisual sobre o corpo de ator, alude a certa ideia de assepsia social: o branco como símbolo da clareza e perfeição das relações sociais contrasta com a crueza das diferentes formas de opressão representadas.